A arquitetura é há muito tempo uma profissão que opera em apartheid estético. A estética favorita do meio, o Modernismo, relegou todos os outros "estilos" à insignificância marginalizada em termos de reconhecimento, ensino e publicações. A última geração viu aqueles que seguem uma estética considerada "tradicional" criarem um sistema completamente separado de escolas, prêmios e publicações.
Dentro de cada tipo de arte, existem divisões essenciais em suas visões fundamentais, o que torna impossível a inclusão de visões diferentes e a democratização de cada arte. Na arquitetura, parecem ter sido fixados dois mundos em exclusão mútua, criando um apartheid estético que impede a democratização.
A arquitetura nunca foi um consenso cultural. É um clichê citar "Style Wars" como uma batalha superficial entre escolas, mas a universalidade barulhenta da Internet inflamou a polarização em quase todas as realidades sociais, inclusive na arquitetura.
Alguns anos atrás, James Curl escreveu Making Dystopia: Making Dystopia: The Strange Rise and Survival of Architectural Barbarism que inspirou o crítico David Brussat a observar: "O livro não vai simplesmente abalar a arquitetura moderna, mas todos os seus preceitos, sua fundação, e acelerará o colapso de um culto que toma o mundo de assalto". O rancor do momento atual fez com que o arquiteto estrelado Frank Gehry, um campeão da estética modernista, dissesse: "Há uma reação contra mim e contra todos aqueles que fizeram construções que têm movimento e sentimento".
Algumas escolas de arquitetura, como Notre Dame, são totalmente dedicadas à Arquitetura Clássica em seu currículo, excluindo a sensibilidade modernistas em projeto. Hoje, existem publicações "separadas, mas iguais" que dão voz a uma visão "tradicional" minoritária. Efetivamente, dois mundos foram colocados em oposição. Assim como MSNBC e Fox News são mundos isolados, mídias como Architect Magazine e Traditional Building Magazine praticamente nunca criticam o mesmo edifício. Ao buscar reconhecimento, o Palladio Awards mostra edifícios tradicionais enquanto o Pritzker elogia a obra modernista. As associações locais da AIA estão agora criando competições paralelas no espírito de um apartheid imposto de maneira rígida, e que faz a separação uma qualidade em si que certifica a participação nessas concorrências.
A arquitetura nunca conduz, ela sempre segue a cultura ao refletir a respeito de quem somos e o que valorizamos. Nesta momento, os Estados Unidos estão com raiva e medo do "fim da democracia", independente de qualquer crença política. Alguns pensam que a última eleição presidencial foi fraudulenta, apesar de todas as evidências. Outros acreditam que as novas leis eleitorais impedem a participação dos eleitores. Acho que a arquitetura se devolveu no sentido de estabelecer lealdades cegas semelhantes a preconceitos exclusivos.
A ira com a política nacional encontrou seu caminho em nossa cultura. Os resultados de uma pesquisa da National Classical Architecture Society (NCAS) de outubro de 2020 patrocinada pela Harris Poll para avaliar a arquitetura preferida dos norte-americanos para edifícios federais mostram que cerca de 30% dos americanos preferem a arquitetura moderna, enquanto 70% favorecem a arquitetura tradicional. Ao invés de entender a pesquisa como reveladora da arquitetura enquanto uma colcha de retalhos complementares, ou um guisado de contrastes apimentados, a NCAS exergou como um resultado expressivo, que provou a ilegitimidade do Modernismo.
É fácil rejeitar o "outro" - e o "outro" é qualquer um que discorde de você. Se a democratização fosse um valor central na arquitetura, as instituições do campo incluiriam todo tipo de estética em cada publicação, competição, aula e conferência, assim como houve por uma breve década quando o Pós-Modernismo teve um momento de consideração em todos os meios editoriais, acadêmicos e institucionais, que agora são "livres" de exclusão preconceituosa. Legalmente, determinamos que "separados, mas iguais" é inerentemente imoral nos Estados Unidos, mas não em nossa cultura.
Thomas Jefferson pode ter iniciado a democracia moderna na Constituição dos Estados Unidos com as palavras "Nós, o Povo..." mas cem anos depois Rudyard Kipling escreveu "Oh, o Leste é o Leste, e o Oeste é o Oeste, e os dois nunca se encontrarão". A democratização na arquitetura é impossível, a menos que a tolerância e o contraste sejam abraçados pelas instituições que criamos.
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